domingo, 28 de março de 2010

Medo, vergonha, penúrias

Foi um sonho bom
Eu era feliz
Vivia num mundo encantado
Não percebia a realidade
Tinha um príncipe encantado
Por quem me encantei
Tentava fazer tudo certo
Ignorava meus anseios
Reprimia minhas vontades
Para também ser a princesa encantada
Porque queria ser perfeita
Porque queria ter a felicidade dos contos de fada
Sabia que algo estava errado
Mas não queria ver
Não queria acordar desse sonho maravilhoso
Sim, eu sei que tinha sacrifícios a serem feitos
Que se não agora, no futuro teria de abrir mão
De parte de mim mesma
Porque o meu mundo é diferente
E se eu quisesse permanecer sonhando
Precisaria me adaptar ao mundo novo
Tentei entender até que ponto eu deixaria de ser eu
Mas tudo estava tão brilhante
Tão bonito, tão gostoso
Que me perdi, fechei os olhos mais forte ainda
Para continuar sonhando e não ter que pensar mais sobre mim
Procurei demonstrar em como me sentia feliz sonhando
Mas era uma felicidade que não aparecia aos outros
Só eu sentia, só eu sabia
As pessoas me viam e as que me conheciam bem viam a contradição
Pelas palavras que saíam da minha boca e por como agia
Lutava uma batalha invisível contra minha consciência
Queria me libertar dela
Não me sentir mais oprimida por seus conselhos silenciosos e perturbadores
Estava tudo adormecido
Minha consciência tinha voz tão fraca que já não a ouvia gritando dos profundos calabouços aonde eu havia encarcerado-a
Não procurava o sensato
Fugia do racional
Queria apenas meu lindo sonho de amor
E estava ainda encantada, com olhos apaixonados
Com um amor que transbordava e me trazia conforto
Mas aconteceu algo
A conversa mais franca e reveladora que tive em todos anos de vida
Me desmascarou, explodiu o balão do sonho que vivia
Fez a consciência sair de sua prisão e se apresentar
Colocou-se no comando e me ordenou
Que não mais poderia me enganar e nem a quem eu amava
Que o sofrimento era inevitável
E que o quanto antes tudo fosse resolvido, melhor
Incompatibilidade de padrões
Mundos muito desconexos
As poucas conexões não eram suficientes
Eu não poderia mais fingir que estava tudo bem
Porque não estava
Eu não queria ver
Eu não queria saber
Eu queria permanecer tentando
Mesmo que para isso eu tivesse que me mutilar
Tinha perdido a razão
E me aprofundava num coma induzido
Motivado pela paixão do sonho perfeito de amor
Mas fui descoberta, revelada, escancarada
Não havia mais como negar
Como me esconder na fantasia
A realidade era muito clara e eu só enganava a mim mesma
Mais ninguém, a nenhuma outra pessoa eu enganei
Naquela conversa franca ouvi o que pensei esconder
Caiu por terra todo meu castelo de cartas
Senti extrema vergonha
De ter sido pega assim tão naturalmente
Tudo era tão aberto que todos viam, menos eu
Porque fechava os olhos e não queria ver
Me senti envergonhada de ter sido tão ingênua
De acreditar que estava mesmo sendo a princesa encantada
De que conseguia me esforçar direitinho para ser perfeita
De que aquele sonho que eu estava vivendo não ser real
Tanta vergonha, tanta ingenuidade, tanta fantasia
Tenho medo de cair no abismo
Que eu mesma criei
E que já está me sugando

2 comentários:

  1. Acho que já escrevi isso antes, mas admiro quem consegue externar os sentimentos com tanta força. Tenho enorme dificuldade.
    Continue. Você escreve bem.
    Você conhece a comunidade orkutiana Bar do Escritores? Certamente você seria bem-vinda e bem lida.

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  2. Amiga, espero que dessa vez vc realmente tenha acordado do mundo fantástico que vc mesma criou. Deixe os príncipes e princesas no lugar deles, ou seja, nos contos de fadas. Outra coisa importante: em um relacionamento saudável, maduro, feito do verdadeiro amor, vc não perde sua essência nem se transforma em uma pessoa diferente para agradar o outro. Isso não é amor, é carência. Te desejo melhoras e espero que vc encontre sua felicidade...dentro de vc mesma, afinal depende de vc ser feliz ou não, e não de outra pessoa.
    Bjooooooooooo!!!

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Matraqueando... opiniões legítimas e que procedam com o que pensam, por favor.